Toda aquela dor... Estava sendo dilacerante suportar tudo aquilo.
Mas eu não tinha o direito de pedir ajuda. Não, aquela era a minha
luta, o meu pecado.
. . .
Meu mundo era tão cinza e melancólico, era deprimente. As pessoas
tinham medo de se aproximar, medo de manchar suas cores com minha fuligem
enegrecida.
Por diversas vezes eu
evitei também. Elas não mereciam a tristeza que me rondava, não era justo.
Mas... Você burlou todas as
regras, quebrou todas as barreiras e se aproximou. Me fez sentir, pela primeira
vez, um pouco de calor naquele mundo congelado dentro de mim.
E eu te odiei por isso.
Odiei, com todas as minhas forças, a primavera que se apossava impiedosamente
de mim, sempre que você chegava.
Você não tinha o direito de
me fazer sentir aquilo... Não podia. Eu estava irritantemente feliz e a culpa
era, exclusivamente, sua.
E eu te odiei ainda mais,
quando a primavera se tornou verão.
Tão rápido como apareceu,
você tomou conta de mim. Não foi preciso pensar muito para saber de onde vinha
tanta cor, tanta luz. Você fez questão de atirar violentamente contra mim, sua
paleta de cores mais viva e radiante.
Você se tornou meu singelo pássaro azul da felicidade.
Mas eu já devia saber que
as coisas pra mim nunca dariam certo. Toda aquela euforia caiu por terra quando
a maldita doença fez seu corpo definhar silenciosamente.
E com uma pancada violenta
de desespero, eu voltei à realidade.
No meio de toda aquela
felicidade, eu te perdi.
Estava novamente sozinha,
cinzenta e destruída. A sutil melodia se calou.
E agora, com todos os
motivos do mundo para te odiar... Eu simplesmente te amei.
Intensa e alucinadamente...
A ponto de, mesmo como toda
a chuva torrencial que desabava sobre a cidade, eu estar em frente ao seu
túmulo... No nosso lugar favorito, o velho penhasco.
Era bom estar ali
novamente, mesmo com lágrimas escorrendo e o vazio no peito. O som do mar
abafava as batidas errôneas do meu coração e aquilo me trazia calma.
Era reconfortante saber
que, ao menos algo, era capaz de silenciar mesmo que momentaneamente, minha
dor.
. . .
E foi ali, no meio da
tempestade e com o vento chicoteando furiosamente meus cabelos, que eu senti...
Seus dedos longos acariciaram docemente minha face em um pedido mudo de força. Sutilmente,
aquele doce verão pedia permissão para voltar.
Você estava me dizendo que
tudo iria ficar bem, que a chuva lavaria toda a podridão do meu corpo... E a
única coisa que eu conseguia sentir, era esperança.
Não era um adeus não é? Eu
finalmente entendi. Mais uma vez você me salvou de mim mesma.
Naquele momento... Seu doce “até logo”, ecoou profundamente dentro de
mim.








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